ecmnesia
the only thing humans are equal in is death
- Aug 30, 2020
- 767
Espontaneidade. Foi isso que ela disse que faltava. Era isso o que faltava em mim naquela manhã de 2012, talvez o que havia faltado em mim a vida toda. Talvez o que ainda falta. Es-pon-ta-nei-dade, de alguma língua qualquer, "qualidade daquilo que é espontâneo; naturalidade; originalidade; simplicidade; desembaraço". Vez ou outra, ainda hoje, sete anos depois me pego presa nestas sílabas. Espontâneo, sem artificialismos, natural, sincero, verdadeiro. Confesso que tampouco sei o que significa, entendo a coesão das palavras, a articulação das letras e, no entanto, o verbete não me é transparente. Não me diz nada. É pouco mais que uma assombração, um demônio que aos meus pés se esconde embaixo da cama ao aguardo. 2555 dias se passaram, o vazio, porém, não passou. 61320 horas depois e daquele dia, os únicos resquícios que restaram em mim, são as sensações a me sufocar. Nada mais me é tangível, mas o que senti ainda é real, embora não possa ser dito. Sinta o vácuo e então a falta de ar. Sinta o toque turbulento de ondas revoltas no mar. Sinta o roçar poroso das rochas contra sua pele. Sinta o soco na boca do estômago. Sinta o ácido escalando por seu esôfago. Sinta uma facada. Sinta um chute. Sinta estar sendo espancada. Sinta simultaneamente, e ao mesmo tempo não sinta nada. Você abaixa a cabeça, envergonhada. A boca seca, as mãos tremem e o coração palpita. Seus lábios permanecem entreabertos, e as lágrimas marejam em suas pálpebras. E o olhar cruel repousa sob seu corpo, triunfante. Ela uns trinta, você treze anos.
Eu sempre tive dificuldade de me relacionar, parece ser algo que invariavelmente me acompanhada desde o berço, mas dessa época não tenho memórias, o que é normal. Também, pouco me lembro da infância, e da pré-adolescência há apenas um borrão, o que é o trauma. Geralmente tenho receio de admitir, mas vou dizê-lo aqui. Trau-ma, de alguma outra língua, "desagradável experiencia emocional de tal intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente do indivíduo". O meu trauma não tem lugar no tempo e espaço. Mas tal como a concepção dos trafamaldorianos ocupa a totalidade da minha existência. Parece haver algo anterior ao marco do cataclisma, mas isso é mera especulação. Partindo desse pressuposto, o início flutua incerto entre os anos de 2008 e 2009, onde respectivamente eu teria entre 8, 9 e 10 anos. Não vou esmiuçar os fragmentos doloridos desses eventos, me limito a dizer que doem no meu âmago. E que por razões que não compreendo são acompanhados de uma intensa luz cor de rosa na forma de um raio. É evidente pra mim que haviam ameaças, e destas me lembro bem. Exploravam sagazmente o componente básico do tênue equilíbrio entre meus pais e eu, o medo. Nunca nos demos bem. Hoje, inconscientemente simulo. Em nome do conviver, reprimo. O mínimo dos pensamentos nos levaria água a abaixo, e eu iria embora. Sem hesitar renunciaria. Mas me machuca tanto, sequer a ideia de elaborar, que opto por não pensar. Em nome da sanidade, enlouqueço. A compreensão do que aquilo significava, porém não me foi imediata. Levou cerca de um ano, um ano e meio, talvez dois. E quando finalmente chegou... nem eu acreditava em mim mesma; o que fazer? O que era aquilo?
Como eu poderia lidar com aquele fato? Como lidar com uma dor que me consumia? Eu tinha apenas 11 ou 12 anos, uma criança começando a provar um gosto do mundo, prestes a quem saber abrir as asas e voar, e de repente havia esse fato sombrio, um bloco de concreto sobre meu corpo. Eu refém de mim. E não havia alguém em quem eu confiasse. Não havia alguém para conversar, alguém para instruir. Havia apenas eu, e o medo, a vergonha, a incredulidade. Nem eu acreditava em mim mesma. As vezes pensava que havia inventado. Um delírio, e sorte minha se assim o fosse. Não era.
edit. feel free to ignore this, it's written in portuguese and it's nothing but a silly text I wrote. I am cleaning my computer and didn't want to lose it, so I am leaving it here, for whoever it may concern. sorry for disturbing the site.
Eu sempre tive dificuldade de me relacionar, parece ser algo que invariavelmente me acompanhada desde o berço, mas dessa época não tenho memórias, o que é normal. Também, pouco me lembro da infância, e da pré-adolescência há apenas um borrão, o que é o trauma. Geralmente tenho receio de admitir, mas vou dizê-lo aqui. Trau-ma, de alguma outra língua, "desagradável experiencia emocional de tal intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente do indivíduo". O meu trauma não tem lugar no tempo e espaço. Mas tal como a concepção dos trafamaldorianos ocupa a totalidade da minha existência. Parece haver algo anterior ao marco do cataclisma, mas isso é mera especulação. Partindo desse pressuposto, o início flutua incerto entre os anos de 2008 e 2009, onde respectivamente eu teria entre 8, 9 e 10 anos. Não vou esmiuçar os fragmentos doloridos desses eventos, me limito a dizer que doem no meu âmago. E que por razões que não compreendo são acompanhados de uma intensa luz cor de rosa na forma de um raio. É evidente pra mim que haviam ameaças, e destas me lembro bem. Exploravam sagazmente o componente básico do tênue equilíbrio entre meus pais e eu, o medo. Nunca nos demos bem. Hoje, inconscientemente simulo. Em nome do conviver, reprimo. O mínimo dos pensamentos nos levaria água a abaixo, e eu iria embora. Sem hesitar renunciaria. Mas me machuca tanto, sequer a ideia de elaborar, que opto por não pensar. Em nome da sanidade, enlouqueço. A compreensão do que aquilo significava, porém não me foi imediata. Levou cerca de um ano, um ano e meio, talvez dois. E quando finalmente chegou... nem eu acreditava em mim mesma; o que fazer? O que era aquilo?
Como eu poderia lidar com aquele fato? Como lidar com uma dor que me consumia? Eu tinha apenas 11 ou 12 anos, uma criança começando a provar um gosto do mundo, prestes a quem saber abrir as asas e voar, e de repente havia esse fato sombrio, um bloco de concreto sobre meu corpo. Eu refém de mim. E não havia alguém em quem eu confiasse. Não havia alguém para conversar, alguém para instruir. Havia apenas eu, e o medo, a vergonha, a incredulidade. Nem eu acreditava em mim mesma. As vezes pensava que havia inventado. Um delírio, e sorte minha se assim o fosse. Não era.
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